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Associação criada na Bahia apoia agroecologia e preserva cultura Bantu

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Arquivo pessoal

Com 17 anos de atuação, a Associação Nacional Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu) se dedica a manter viva a cultura de um povo que chegou ao Brasil há mais de 450 anos. Trazidos da África como escravos, os bantus espalharam pelo Brasil seus dialetos, costumes e o estilo de vida da terra natal, onde até desenvolvem a agroecologia.

Durante o período da escravidão, o povo bantu criou quilombos. Nesses espaços, privilegiou a produção agrícola sustentável, respeitando sempre o equilíbrio ambiental. O modelo agroecológico tem o apoio da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead).

Localizada em Salvador, a associação inicialmente congregava apenas terreiros de candomblé originários da Angola. Com o passar do tempo, outras comunidades e povos tradicionais se uniram ao movimento.

Hoje, a Acbantu está presente em 17 estados e é composto por mais de 3,8 mil povos de terreiro de diversas etnias, 48 comunidades quilombolas do estado da Bahia, além de comunidades extrativistas, de pescadores artesanais, de grupos culturais de capoeira angolana e sambas de roda.

Para a coordenadora-geral de Políticas para Mulheres Rurais, Juventude, Povos e Comunidades Tradicionais, Jana Romanin, entidades como a Acbantu são de extrema importância para a preservação da cultura dos povos e comunidades tradicionais afrodescendentes. “Elas atuam de forma a não nos deixar esquecer a história, dando visibilidade e valorizando as tradições e a cultura, além de lutar pela garantia de direitos.”

Estrutura

A associação é dividida em três eixos. O primeiro é o patrimônio cultural, que consiste na preservação das tradições da etnia. Logo, somente descendentes de origem bantu podem fazer parte.

Segundo a coordenadora do Departamento de Etno e Desenvolvimento da Acbantu, Ana Maria Placidino, esse foi o eixo fundador. “É nessa área que vemos os velhos ensinando os mais novos. Tem que ser pessoas engajadas no movimento de preservação.” Como exemplo, cita a capoeira de Angola,  deixada pelos ancestrais e que se difere da praticada pelos brasileiros.

O segundo eixo, que leva o nome de etno desenvolvimento, surgiu em 2004, quando a Fundação Cultural Palmares organizou uma distribuição emergencial de alimentos. A Acbantu foi convidada para organizar essa distribuição, na Bahia, para povos de terreiros.

“Cadastramos famílias dentro do perfil de insegurança alimentar e nutricional. E essas famílias passaram a receber doações. Com os dados do cadastramento, começamos a fazer um mapeamento das potencialidades dessas famílias. A partir disso, núcleos produtivos foram criados. E, então, o eixo de etno e desenvolvimento nasceu da formação desses núcleos produtivos”, explica a coordenadora.

Atualmente, a Acbantu colhe os frutos dessa ação. Por causa das doações em, 2004, as famílias beneficiadas hoje são agricultores familiares. Todos têm a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), já comercializam para o Programa de Aquisição de Alimentos e estão se organizando para acessarem o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Do eixo, surgiu a Cooperativa Kitanda Bantu, que tem 78 famílias associada. Elas trabalham em hortas, pomares e cozinhas comunitárias. Ana Maria resume o eixo como a essência dos valores do patrimônio cultural da etnia. “Nós visamos construir um modelo de desenvolvimento sustentável, justo e solidário, em que as relações humanas e o meio ambiente sejam o centro, e não o lucro.”

Ela define como uma forma de trabalhar que não é predatória, mas que respeita o meio ambiente. É nesse eixo que são articulados os núcleos de beneficiamento, as hortas, os pomares comunitários agroecológicos, o artesanato e a produção cultural.

“Nossa produção de alimentos deve ser agroecológica e que respeite a natureza. Para que, no momento da comercialização, o preço também seja justo, gerando segurança alimentar e nutricional para quem não tem acesso a alimentos saudáveis.”

O eixo da cidadania é o terceiro e último e é embasado na atuação da associação em diversos conselhos de direitos.

Carolina Gama (Sead)

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