Agropecuária

Preço do leite ao produtor deve ter alta recorde de 10% em agosto, diz Cepea

Foto: Alcides Okubo Filho/Embrapa

Da redação AGROemDIA

O preço do leite captado em julho e pago em agosto deverá ultrapassar com folga o recorde, com alta de cerca de 10% na “Média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP) do Cepea de agosto. A projeção consta do Boletim do Leite de agosto do Cepea, divulgado nesta quarta-feira 19.  

No acumulado do ano – janeiro a julho –, o preço do leite ao produtor na “Média Brasil” líquida do Cepea teve alta real de 29,2%. “Esse avanço no preço neste ano foi acentuado pelo forte aumento de 15,7% observado de junho para julho, quando o valor ao produtor chegou a R$ 1,7573/litro, o maior registrado para um mês de julho e o segundo mais alto de toda a série histórica do Cepea (desde 2004), atrás apenas da média de agosto/16 (R$ 1,7815/litro), em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de julho/20)”, informa a analista Natália Grigol, da equipe Leite do Cepea.

Já o custo operacional efetivo (COE) da pecuária leiteira teve alta de 5,79% no acumulado do ano, na “média Brasil”. “Um dos principais fatores que influenciaram essa alta em 2020 foram os preços do concentrado, que registraram elevação acumulada de 10,04% nos primeiros sete meses do ano. A suplementação mineral, cujos valores subiram 6,96% no mesmo período, também teve influência nesse cenário”, pontua Rodolfo Jordão, também analista da equipe Leite do Cepea. Em julho, o custo operacional efetivo da pecuária leiteira aumentou 1,41%.

Leia, abaixo, as análises de Natália Grigol e Rodolfo Jordão sobre os preços do leite ao produtor e custo de produção em julho e no acumulado de 20202, publicadas no Boletim do Leite de agosto do Cepea:

Preço ao produtor deve atingir recorde real em agosto/20

Por Natália Grigol

“O preço do leite ao produtor na “Média Brasil” líquida do Cepea registou alta acumulada real de 29,2% de janeiro a julho de 2020. Esse avanço no preço neste ano foi acentuado pelo forte aumento de 15,7% observado de junho para julho, quando o valor ao produtor chegou a R$ 1,7573/litro, o maior registrado para um mês de julho e o segundo mais alto de toda a série histórica do Cepea (desde 2004), atrás apenas da média de agosto/16 (R$ 1,7815/litro), em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de julho/20).

Apesar do patamar já elevado, o preço do leite captado em julho e pago em agosto deverá ultrapassar com folga o recorde. A expectativa é de alta de cerca de 10% na “Média Brasil” do Cepea de agosto.

Essa valorização do leite se deve à maior competição entre as indústrias de laticínios para garantir a compra de matéria-prima nos últimos meses. A concorrência acirrada, por sua vez, esteve atrelada à necessidade de se refazer estoques de derivados lácteos, num momento de oferta limitada no campo e de recuperação da demanda.

É importante ressaltar que existe uma tendência típica de aumento das cotações ao produtor entre março e agosto, devido à sazonalidade da produção.

Neste período, a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens, em decorrência da diminuição das chuvas no Sudeste e Centro-Oeste. No entanto, neste ano, a situação foi agravada pelos efeitos encadeados associados à pandemia de covid-19.

Normalmente, as indústrias empenham esforços em compor estoques antes de abril, prevendo que a captação caia nos meses posteriores. Contudo, em abril deste ano, as perspectivas negativas sobre o consumo em médio e longo prazos diante da pandemia aumentaram o nível de incerteza e fizeram com que indústrias diminuíssem seus investimentos em estoques.

No entanto, o consumo de lácteos se recuperou em maio e até se aqueceu nos meses posteriores, ancorado nos programas de auxílio emergencial, contexto que reduziu ainda mais os estoques. Diante disso, os preços dos derivados lácteos seguiram avançando em julho e também na primeira quinzena de agosto. O maior destaque é o queijo muçarela, derivado que registrou preço médio mensal recorde em julho – e que deve ser superado também em agosto.

A competição pela compra da matéria-prima e a baixa disponibilidade de leite resultaram em aumento das cotações no campo. O valor do leite spot (negociado entre indústrias) em Minas Gerais saltou de R$ 2,24/litro na primeira quinzena de junho para R$ 2,75 na segunda quinzena de agosto, expressiva elevação de 22,6%. A média mensal de agosto, de R$ 2,66/litro, superou em 12,2% a de julho e em significativos 68,1% a de agosto de 2019, em termos reais. É, também, o maior valor da série histórica do Cepea, iniciada em julho em 2004.

Seria correto compreender que, com preços mais altos, a ampliação do fornecimento de concentrado e silagem seria estimulada até que o volume de leite ofertado se equilibre à demanda – o que, por sua vez, poderia segurar o avanço nos valores do leite. De fato, essa resposta da produção tem ocorrido, conforme apontam os dados do ICAP-L – houve alta de 4,55% na captação de junho para julho. Entretanto, ao aumento da oferta tem ocorrido de forma mais lenta neste momento, devido aos efeitos desencadeados pela incerteza no início da pandemia. A queda de preços ao produtor atípica em maio, a própria defasagem temporal no repasse das condições de mercado ao produtor (característica da cadeia do leite) e o aumento dos custos de produção em 2020 deixaram pecuaristas mais cautelosos – muitos secaram as vacas ou diminuíram os investimentos. Essas ações dificultaram a retomada do crescimento da produção, já que a atividade leiteira é diária e seu planejamento tem efeitos tanto imediatos quanto nos meses posteriores.”

Custo de produção do leite acumula aumento de 5,79% em 2020

Por Rodolfo Jordão

“O custo operacional efetivo (COE) da pecuária leiteira aumentou 1,41% em julho na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP). No ano, a alta acumulada é de 5,79%. Um dos principais fatores que influenciaram essa alta em 2020 foram os preços do concentrado, que registraram elevação acumulada de 10,04% nos primeiros sete meses do ano. A suplementação mineral, cujos valores subiram 6,96% no mesmo período, também teve influência nesse cenário.

As cotações dos alimentos concentrados aumentaram 1,37% em julho, refletindo as valorizações das matérias-primas utilizadas na produção. Os estados que tiveram as maiores altas nos custos de concentrado em julho foram Minas Gerais (2,29%) e Santa Catarina (1,15%).

A suplementação mineral foi o segmento de custos que teve o maior aumento nos preços em julho, de 2,5% na “média Brasil”, principalmente nos estados do Paraná e de Goiás, onde as altas foram de 5,58% e de 5,38%, respectivamente. A valorização desse segmento foi influenciada pela alta taxa de câmbio nos últimos meses, que encareceu a importação das matérias-primas que compõem esses produtos.

Com a forte alta de 16,11% no preço do leite em julho, a relação de troca por milho melhorou pelo segundo mês consecutivo, tornando-se a melhor neste ano (28,28 litros de leite por saca de 60 kg de milho). Assim, o poder de compra do produtor subiu 10,39% na comparação mensal. Mesmo assim, a relação de troca ainda é menos favorável ao produtor de leite do que a registrada no mesmo período do ano passado, quando eram necessários 26,38 litros de leite para a aquisição de uma saca de milho.”

 

 

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One thought on “Preço do leite ao produtor deve ter alta recorde de 10% em agosto, diz Cepea

  • Diogo

    O negocio eh parar de tomar leite….

    Resposta

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