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Então é Natal

Gil Reis*

Velhos hábitos nunca morrem. É o que acontece com muitos e comigo também. Passei 27 anos da minha vida apresentando um ‘talk show’ regional com três entrevistas em cada programa, sendo a terceira com um cantor ou autor de músicas, além do fato de eu e meu sócio à época, Cézar Leal, termos comprado um tradicional programa de TV, anteriormente liderado por Kzan Lourenço, então líder absoluto em audiência no horário em Belém do Pará. Eram quatro horas diárias alavancadas por cantores, autores e músicas paraenses na extinta TV Guajará, com o inestimável apoio do Dr. Lopo de Castro Junior, o Lopinho – TV Cidade, onde nasceu o famoso ritmo batizado pelo Cézar como ‘brega’.  

Honrando um hábito antigo de citar trechos de músicas, sempre lembrando os seus autores, em meus artigos e justificando o título deste ‘Então é Natal’, recordo da versão da música ‘Happy Xmas (War Is Over)’, composta por John Lennon e Yoko Ono e lançada no álbum ‘25 de dezembro’ (1995) da cantora Simone, que a imortalizou no Brasil como uma canção natalina e não de protesto. Sem esquecer que a cantora, outros e eu, nascemos na maravilhosa data de 25 de dezembro, homenageio o mestre Evaristo Miranda por seu artigo ‘Feliz Agronatal’, publicado em 3 dezembro deste ano.

Os seres humanos, consciente ou inconscientemente, lembram permanentemente do fator mais importante e determinante na manutenção da vida – a alimentação. Em todos os eventos importantes na vida de todos, o agro, responsável pela nossa alimentação, está presente nos cafés da manhã, ‘coffee breaks’, almoços, jantares, coquetéis e outros. Pasmem todos, até os nossos detratores homenageiam o agro nos seus eventos e nas suas alimentações diárias. Alguns do nosso setor chegam até a dizer que o agro não se comunica, mas como? Não me chamem de desinformado e reflitam: em toda a mídia mundial, o agro está presente, seja de forma elogiosa ou não, e os seus autores fazem as suas três refeições, além de realizarem os seus eventos com os nossos produtos. Talvez, aí sim, a comunicação não seja da forma que desejaríamos que fosse.

A canção traduz os sentimentos que devem imbuir a todos nesta época do ano. Nem a propósito, num momento que o Brasil atravessa um período tão conturbado de ‘polarizações políticas’ sobre os mais variados assuntos, inclusive, muito sensível para o agro, vítima de ‘chantagem’ de parceiros comerciais europeus, que outrora acreditávamos aliados e amigos, países que integram a União Europeia, hoje usando como argumentos ‘vidências catastrofistas’ do IPCC, paridas nos corredores tenebrosos da ONU. Portanto, paremos uns breves momentos, atentemos para o significado da letra da tão inspirada canção de Natal:

Então é Natal, e o que você fez?

O ano termina e nasce outra vez

Então é Natal, a festa Cristã

Do velho e do novo

Do amor como um todo

 

Então bom Natal

E um Ano Novo também

Que seja feliz quem

Souber o que é o bem

 

Então é Natal, pro enfermo e pro são

Pro rico e pro pobre, num só coração

Então bom Natal, pro branco e pro negro

Amarelo e vermelho, pra paz afinal

Os seres humanos, consciente ou inconscientemente, lembram permanentemente do fator mais importante e determinante na manutenção da vida – a alimentação”

Como o leitor deve ter percebido, cada estrofe traz um significado profundo, lembrando a todos como devemos nos comportar na época natalina, praticamente uma pausa para reflexão, harmonia e uma preparação para o novo ano que se avizinha, na vã esperança de que possamos enfrentá-lo sem tanta desarmonia.

Confesso que na origem deste artigo está leitura envolvente do que escreveu Evaristo Miranda sob o título ‘Feliz Agronatal’. O autor descreve as origens dos símbolos mais importantes das festividades natalinas:

“Entre os primeiros símbolos natalinos levados do campo às residências estão as árvores de Natal. São pinheiros e tuias, produzidos aos milhares por viveiristas, em vários tamanhos e formatos, para atender ao desejo e às possibilidades do bolso de cada consumidor. Os pinheiros natalinos, sempre verdes, simbolizam a esperança e a vida. Sua forma triangular evoca a Trindade. O inventor da árvore de Natal foi São Bonifácio, o apóstolo dos germanos. Em 718, o papa Gregório II enviou-o à Alemanha com a missão de reorganizar a Igreja.

Por cinco anos, Bonifácio evangelizou os territórios dos atuais Estados alemães de Hessen e Turíngia. Sem preocupações ambientais ou com costumes locais, em 723, o bispo da Germânia derrubou um enorme carvalho dedicado ao deus Thor, perto da atual cidade de Fritzlar, na Alemanha. Convenceu povo e druidas no machado. Esse acontecimento é considerado o início da cristianização da Alemanha. O carvalho destruiu tudo onde caiu, menos um pequeno pinheiro. Bonifácio interpretou esse fato como um milagre. Era Advento e ele declarou: “Doravante, chamaremos esta árvore de árvore do Menino Jesus”. O costume de plantar pinheiros para celebrar o nascimento de Jesus começou, estendeu-se pela Alemanha e de lá ao mundo.

Na minha opinião, Evaristo escreveu um ‘mix’ de artigo, contos de Natal e uma belíssima aula sobre as origens dos símbolos da maior festa da Cristandade. Peço ao leitor que olhe ao seu redor e veja que o agro está presente em todos os momentos de sua vida, não somente na quadra natalina. Tudo o que fazemos ou usamos durante a nossa vida envolve, necessariamente, o agro.

O autor de ‘Feliz Agronatal, ainda, aduz:

Além da decoração, a agropecuária marca a ceia de Natal fornecendo a proteína animal usada nos pratos típicos desta época. Num encontro eucarístico, familiares dispersos e distantes se reúnem nesse dia sagrado. Na ceia são consumidas proteínas nobres: peru, chester, tênder, pernil e outras carnes e cortes especiais.”

Encerrando o artigo, Evaristo narra um belíssimo conto de Natal que nos reporta ao paraíso Cristão, lembrando ‘en passant’ que um produto do agro consumido por Eva e compartilhado com Adão que, de acordo com a Bíblia, iniciou a caminhada da humanidade no nosso planetinha:

Em meio a tanta gente, Maria percebeu uma velha do lado de fora. Ela era curvada, feia, enrugada e parecia ter mais de mil anos. Movia-se de um lado para o outro. Não entrava. Depois da meia-noite, seguia lá fora, como uma bruxa. Quando o último visitante deixou o local, a velha entrou na estrebaria, sob o olhar desconfiado e até temeroso de José, do boi e do burro.

Hesitando, ela aproximou-se da Virgem e do Menino. Trazia nas mãos uma fruta bonita, perfumada e certamente saborosa. Maria nunca vira esse fruto. A velha entregou seu presente como se fosse o globo terrestre e balbuciou: “Este fruto, a humanidade quis comer verde no paraíso. Agora, está maduro”. Atrás das pregas das pálpebras, seus olhos encheram-se de lágrimas.

Maria acolheu o fruto, sem dizer uma palavra. Clarões no horizonte anunciavam um novo dia. A velha retirou-se. Maria então perguntou: “Senhora, qual é o seu nome?”. No limiar da entrada, a velha retornou-se lentamente. Aliviada e com um sutil sorriso nos lábios, ela disse: “Eva”.”

O artigo do mestre Evaristo Miranda é emocionante. Caso me fosse dado o direito de aconselhá-lo, meu caro leitor, eu diria: leia o artigo ‘Feliz Agronatal’, clicando aqui.

Feliz Natal a todos

*Consultor em Agronegócio

**As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a posição do AGROemDIA

 

AGROemDIA

O AGROemDIA é um site especializado no agrojornalismo, produzido por jornalistas com anos de experiência na cobertura do agro. Seu foco é a agropecuária, a agroindústria, a agricultura urbana, a agroecologia, a agricultura orgânica, a assistência técnica e a extensão rural, o cooperativismo, o meio ambiente, a pesquisa e a inovação tecnológica, o comércio exterior e as políticas públicas voltadas ao setor. O AGROemDIA é produzido em Brasília. E-mail: contato@agroemdia.com.br - (61) 99244.6832

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