Setor lácteo brasileiro busca maior participação no mercado mundial

A Aliança Láctea Sul Brasileira anunciou que reforçará o trabalho de capacitação das empresas para o comércio exterior, fazendo com que as exportações venham a ser uma ferramenta de estabilização do mercado do setor leiteiro.
Segundo o coordenador da Aliança Láctea e presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Alexandre Guerra, aproveitar as oportunidades que existem no mercado internacional é vital para enfrentar a crise econômica durante e após a pandemia da covid-19.
“O Brasil ainda é importador de leite, mas não nos resta outra opção senão estar no mercado externo. Mas, para podermos exportar e acompanhar as missões internacionais, temos que estar preparados”, disse Guerra nessa sexta-feira 17, durante reunião virtual que contou com dezenas de dirigentes.
Aparelhar as empresas brasileiras para essa nova realidade e encontrar oportunidades é a meta da Apex Brasil. Durante o encontro, o presidente da Apex, Sergio Segovia, lembrou que o Brasil é o quarto maior produtor de lácteo do mundo e que o setor está entre os prioritários para estímulo à exportação, ao lado de cafés, frutas, cachaças e mel.
“A Apex quer contribuir para modernizar processos produtivos e fomentar exportações, o que pode ocorrer por meio de convênios setoriais ou novas soluções”, sugeriu Segovia. Em 2019, a agência esteve ao lado de empresas que movimentaram US$ 22 bilhões em exportações só no ramo de alimentos, bebidas e agronegócio.
Programas de incentivos às exportações
Atualmente, o incentivo ao embarque de lácteos vem sendo feito por meio de dois programas da Apex desenvolvidos em parceria com a CNA (Agro BR – Brazil is Food) e Viva Lácteos (GooDairy Brazil). O foco, assinalou o presidente, é a valorização de produtos típicos brasileiros, suas marcas e conceitos. Só no programa desenvolvido com a CNA, a meta é atender 140 empresas até o fim de 2020.
Outra ação em curso é o Programa de Qualificação para Exportação (Peiex), projeto de avaliação, diagnóstico e plano de trabalho voltado à exportação que está sendo adaptado para atender às demandas do agronegócio.
Em andamento, um projeto piloto do Peiex Agro tem foco no setor lácteo e atuação prevista em Varginha (MG) e Passo Fundo (RS). A previsão é que o treinamento ocorra em agosto deste ano.

“Qualificação é essencial para exportar e inovar para implementar soluções que garantam participação planejada e segura”, pontuou Segovia, lembrando que o setor cooperativista é alvo de grande interesse internacional.
O gerente de agronegócio da Apex, Igor Brandão, indicou que a demanda mundial por alimentos deve crescer 60% até 2050, puxada pelo crescimento populacional. Os setores mais favorecidos, segundo estudo da FAO, devem ser o de proteína animal, de frutas e de vegetais.
Mercado global em transformação
“O mercado global está em transformação. Verificamos tendência de aumento da renda per capital na Ásia e na África. A população será mais urbana e gastará mais com alimentos”, projetou Brandão, ressaltando que a população mundial deve chegar a 11 bilhões de pessoas em 2100.
Apesar disso, ressaltou o gerente da Apex, os itens ficarão mais baratos, o que eleva a necessidade de as empresas do agro se tornarem mais competitivas. Entre as tendências, indicou um aumento do e-commerce na aproximação entre consumidores e produtores. Antes da pandemia, informou ele, 20% das transações eram feitas pelo e-commerce. Com a crise, esse índice chegou próximo a 60% e deve se estabilizar em 40% após a pandemia.
Para conquistar novos clientes, o presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA), deputado federal Alceu Moreira, desafiou o setor a estar mais presente em eventos internacionais e a criar uma agência própria de fomento, similar às existentes no setor de carnes bovina, suína e de aves. “Não podemos mais ter feiras internacionais sem a presença do setor lácteo brasileiro.”
Entre os mercados em prospecção para o segmento está a Rússia, um dos maiores compradores mundiais de lácteos. Contudo, indica a superintendente de Relações Internacionais da CNA, Ligia Dutra, os mercados com mais potencial estão na Ásia, principalmente na China e nas Filipinas. Na América, a especialista apontou o Chile e o Peru.
Para as empresas que tiverem interesse em negociar com a China, Ligia recomendou que registrem suas marcas naquele mercado, tendo em vista que há um problema recorrente de sobreposição.
Processo de habilitação de empresas
Outra dica é dar início logo ao processo de habilitação para exportação, já que hoje o processo é mais simples para o setor de lácteos do que para outros ramos. “A tendência é que esse processo se torne mais exigente. Então, recomenda-se que as empresas pensem em começar a preparar sua habilitação”. Para participar do projeto Agro BR, basta se inscrever pelo site da CNA. A inscrição é gratuita
Com escritório localizado na China, a CNA também planeja dar início a estudo especial de prospecção para o setor lácteo naquele mercado, ação que também será realizada em conjunto com a Apex.