Agropecuária

Cepea projeta fim de altas no preço do leite ao produtor a partir do 3º bimestre

Foto: Divulgação/AEN/Gov. PR

A tendência altista do preço do leite ao produtor deve se encerrar no terceiro bimestre – algo bastante incomum para o setor, uma vez que, historicamente, esse período é caracterizado pela elevação das cotações em decorrência da queda sazonal da produção. É o que informa a edição de junho do Boletim do Leite do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, divulgado nesta quarta-feira (21).

“Ainda que a produção nacional seja limitada pelo inverno seco no Sudeste e no Centro-Oeste nesta época do ano, os preços não devem seguir em alta em maio, sobretudo devido ao aumento da oferta de lácteos importados e ao enfraquecido consumo doméstico. Pesquisas do Cepea ainda em andamento apontam para possíveis reduções –em torno de 5% – no preço do leite ao produtor em maio”, diz a publicação.

De acordo com o Cepea, no acumulado do ano, os preços do leite cru subiram 11,8%, atingindo R$ 2,8961/litro na “Média Brasil” líquida em abril – valor 9,3% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de abril/23).

Já o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 2,31% entre abril e maio na “Média Brasil”, que considera os estados de BA, GO, MG, SC, SP, PR e RS. “O movimento foi justificado por desvalorizações registradas em algumas das principais categorias de insumos que influenciam os custos de produção, dentre as quais se destacam os concentrados, adubos e corretivos”, sublinha o Cepea.

Leia, abaixo, as análises de Natália Grigol e Catarina Simplicio, da Equipe Leite do Cepea, sobre o mercado brasileiro de leite:

Depois de altas consecutivas no 1° quadrimestre, preços sinalizam queda”

Natália Grigol/Da Equipe Leite do Cepea

“O comportamento dos preços do leite cru segue atípico em 2023. Com uma safra pouco expressiva, as cotações registraram alta no primeiro bimestre em função da oferta limitada; no segundo bimestre, o avanço da entressafra intensificou o movimento de valorização.

Assim, no acumulado do ano, os preços do leite cru subiram 11,8%, atingindo R$ 2,8961/litro na “Média Brasil” líquida em abril – valor 9,3% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de abril/23). Contudo, a tendência altista deve se encerrar no terceiro bimestre – algo bastante incomum para o setor, uma vez que, historicamente, esse período é caracterizado pela elevação das cotações em decorrência da queda sazonal da produção.

Ainda que a produção nacional seja limitada pelo inverno seco no Sudeste e no Centro-Oeste nesta época do ano, os preços não devem seguir em alta em maio, sobretudo devido ao aumento da oferta de lácteos importados e ao enfraquecido consumo doméstico. Pesquisas do Cepea ainda em andamento apontam para possíveis reduções –em torno de 5% – no preço do leite ao produtor em maio.

O aumento das importações de lácteos é um fator importante nesse contexto porque, além de o volume estar superior ao de anos anteriores, os preços negociados seguem mais competitivos em relação aos nacionais – o que pressiona as cotações domésticas ao longo de toda a cadeia. Dados da Secex mostram que, em maio, as importações somaram mais de 208,8 litros em equivalente leite, altas de 42% frente a abril e de 219% em relação a maio/22. As compras realizadas entre janeiro e maio deste ano estão três vezes maiores que as registradas no mesmo período do ano passado. Essa quantidade representa aproximadamente 9,1% da captação formal de leite cru, tendo como base os dados da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE de 2022.

Vale destacar que, no mesmo período do passado, as importações representaram apenas 2,9% da captação nacional.

Com o aumento da disponibilidade interna de lácteos e o consumo ainda fragilizado, já era possível observar, depois da segunda quinzena de abril, queda nos preços do leite spot e dos derivados lácteos. Em Minas Gerais, a média mensal do spot em maio recuou 16,6%, chegando a R$ 2,78/litro. A pesquisa do Cepea em parceria com a OCB mostra que as cotações médias do UHT, da muçarela e do leite em pó fracionado caíram 3,8%, 0,6% e 3,7%, respectivamente, no atacado paulista em maio.

Além disso, é preciso ressaltar que os preços de outras commodities também têm caído, o que impacta nos custos de produção do leite. A pesquisa do Cepea mostra que, em maio, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 2,3% na “Média Brasil”, influenciado pela retração nos preços do concentrado.

Com isso, a relação de troca tem estado mais favorável ao produtor: em maio, foram necessários 25,8 litros de leite para a compra de uma saca de milho, uma melhora de 14,4% no poder de compra entre abril e maio e de 25,9% frente ao mesmo período do ano passado. Nesse contexto, há maiores incentivos para investimentos na produção, o que pode sustentar a oferta no segundo semestre.”

Custo da pecuária leiteira segue recuando em maio”

Catarina Simplicio//Da Equipe Leite do Cepea

“O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 2,31% entre abril e maio na “Média Brasil”, que considera os estados de BA, GO, MG, SC, SP, PR e RS. O movimento foi justificado por desvalorizações registradas em algumas das principais categorias de insumos que influenciam os custos de produção, dentre as quais se destacam os concentrados, adubos e corretivos.

Os concentrados, que são o principal item de custo da atividade, registraram desvalorização de 3,8% frente ao observado em abril, sendo que nos estados de GO, RS e SP, foram verificadas as quedas mais intensas. As baixas ocorreram, sobretudo, devido à queda das cotações do milho nos últimos meses, inclusive em maio. As perspectivas quanto ao volume produzido na safra seguem otimistas, reforçando a pressão sobre as cotações desse insumo.

Os adubos e corretivos também contribuíram para a redução dos custos de produção em maio, dando sequência ao movimento de queda iniciado em meados de 2022, com desvalorização de 4,92% no último mês.

No mercado internacional, os fertilizantes potássicos e alguns fosfatados apresentaram baixas nos preços em maio, justificando o movimento no mercado interno.

No mesmo período, os valores dos medicamentos seguiram movimentos distintos. De abril para maio, os preços dos antibióticos caíram 3,04%, enquanto os dos antimastíticos subiram 2,55%, limitando a queda do COE.

Relação de troca

Com as fortes desvalorizações do milho e o aumento no preço do leite pago ao produtor, o poder de compra do pecuarista aumentou 14,4% em abril, quando foram necessários 25,8 litros de leite para a aquisição de uma saca de 60 kg de milho. Comparando com o mesmo período do ano passado, a relação de troca melhorou em 25,9%.

Ressalta-se que abril foi o quarto mês consecutivo de melhora no poder de compra do produtor e o segundo mês com a relação de troca mais favorável dos últimos 12 meses, atrás apenas da registrada em julho/22 (de 22,9 litros para a aquisição de uma saca do grão).”

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