Agropecuária

Um fio de esperança para o produtor de leite

Foto: Embrapa/Divulgação

O movimento de queda do preço do leite ao produtor ainda pode persistir em outubro, mas em menor intensidade, segundo a edição de novembro do Boletim do Leite do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.  “A expectativa é de que a “Média Brasil” recue em torno de 5%”, prevê a publicação.

De acordo com o boletim, o enfraquecimento do movimento baixista em outubro pode se explicar pela ligeira diminuição da disponibilidade interna de lácteos, uma vez que o crescimento da captação nacional tem perdido força. Isso já desenha um cenário menos pessimista para o produtor neste fim de 2023, um ano marcado pela frustração na maioria das propriedades de pecuária leiteira do país.

No entanto, o cenário ainda é pouco animador para os produtores, mesmo com a retração do Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira, que chega a 5,4% no acumulado de janeiro a outubro de 2023 – considerando- -se a “Média Brasil”, formada pelas bacias leiteiras de BA, GO, MG, SC, SP, PR e RS.

“Os recuos, em boa parte do ano, nos valores de comercialização de importantes insumos, como rações, adubos, corretivos, e diesel, favoreceram a retração dos custos produtivos. Porém, com as sucessivas retrações no preço do leite pago ao produtor no período (queda real 21,4% desde janeiro, também na média nacional), a receita e, consequentemente, as margens foram se estreitando. O Cepea estima que, de janeiro a outubro de 2023, a receita total das fazendas modais recuou 19% na “Média Brasil” e a margem bruta (receita – COE), 55%.”

Queda nos preços ao produtor deve perder força em outubro”

Natália Grigol//Da equipe Leite do Cepea

“Levantamento do Cepea mostra que o preço do leite cru captado por laticínios em setembro registou a quinta queda mensal consecutiva, de 9,1% frente a agosto, chegando a 2,0509/litro na “Média Brasil” líquida. Em um ano (de setembro/22 para setembro/23), o recuo é de expressivos 31,5%, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de setembro/23).

Pesquisas ainda em andamento do Cepea indicam que o movimento de queda do preço do leite ao produtor ainda pode persistir em outubro, mas em menor intensidade e com maior heterogeneidade entre as bacias leiteiras. A expectativa é de que a “Média Brasil” recue em torno de 5%.

O enfraquecimento do movimento baixista em outubro pode se explicar pela ligeira diminuição da disponibilidade interna de lácteos. Isso porque o crescimento da captação nacional tem perdido força.

O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea registrou alta de apenas 0,36% de agosto para setembro, influenciado pelos aumentos de 4,9% na Bahia, de 2,5% em Goiás, de 2,41% em Minas Gerais e de 2,14% em São Paulo. Já a captação nos estados do Sul recuou, em média, 2% em setembro. No Rio Grande do Sul, a retração foi de 2,71%; no Paraná, de 1,71%; e em Santa Catarina, de 1,64%. Esses resultados evidenciam uma desaceleração na captação, cenário que deve se intensificar no último bimestre de 2023.

Além do clima adverso (seca e calor no Sudeste e Centro-Oeste e excesso de chuvas no Sul), o estreitamento da margem do pecuarista é outro fator que vem limitando a produção. A pesquisa do Cepea mostra que o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira na “Média Brasil” caiu 5,4% de janeiro a outubro, ao passo que a receita e a margem bruta recuaram de forma mais intensa, 19% e 55%, respectivamente.

Diante da progressiva e intensa perda na margem do produtor, os investimentos na atividade tendem a diminuir neste curto prazo. Ao mesmo tempo, as importações seguem em aumento. Dados da Secex mostram que, em outubro, as compras externas aumentaram 26,1% em relação ao mês anterior. No acumulado do ano, o volume importado soma 1,8 bilhão de litros em equivalente leite, expressivos 77,4% acima da quantidade do mesmo período de 2022.

A pesquisa do Cepea mostra que, em outubro, os preços do UHT e da muçarela negociados entre laticínios e canais de distribuição no estado de São Paulo caíram 4,1% e 2,5% frente aos de setembro. Porém, o leite em pó fracionado (400g) se valorizou em 2,5%, devido à diminuição da produção deste lácteo. As médias da primeira quinzena de novembro apontam para uma inversão na tendência no mercado de derivados, à medida que os estoques estiveram mais enxutos e o consumo deu sinais de recuperação. Esses dados fortalecem a percepção de agentes de mercado consultados pelo Cepea de que as cotações do leite ao produtor podem registrar queda menos acentuada em outubro e estabilidade no último bimestre do ano.”

Custo da pecuária leiteira cai, mas receita recua com ainda mais força”

Gabriela Murgel//Da equipe Leite do Cepea

“O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira apresenta retração acumulada de 5,4% de janeiro a outubro de 2023 – considerando- -se a “Média Brasil”, que é formada pelas bacias leiteiras de BA, GO, MG, SC, SP, PR e RS. Os recuos, em boa parte do ano, nos valores de comercialização de importantes insumos, como rações, adubos, corretivos, e diesel, favoreceram a retração dos custos produtivos.

Porém, com as sucessivas retrações no preço do leite pago ao produtor no período (queda real 21,4% desde janeiro, também na média nacional), a receita e, consequentemente, as margens foram se estreitando. O Cepea estima que, de janeiro a outubro de 2023, a receita total das fazendas modais recuou 19% na “Média Brasil” e a margem bruta (receita – COE), expressivos 55%.

A distância entre as desvalorizações dos grãos e as observadas nos produtos de dieta comercializados em revendas e em casas agropecuárias explica, pelo menos em parte, esse movimento. Enquanto o preço do milho – principal componente energético – apresentou forte recuo de 31% nos primeiros 10 meses do ano (Indicador ESALQ/BM&FBovespa, base Campinas – SP), no mesmo período, o grupo de insumos formado pelos concentrados teve queda de apenas 10% na “Média Brasil”. A transmissão de preços ao produtor, a margem das revendas, o frete e os custos de fabricação desses insumos podem justificar essa diferença.

Em outubro, especificamente, acompanhando a valorização ocorrida para o milho, os insumos dessa categoria voltaram a subir na maioria dos estados acompanhados, resultando em uma leve alta na “Média Brasil”. Quanto ao grupo de adubos e corretivos, quedas foram registradas especialmente em alguns formulados, enquanto adubos à base de ureia e fósforo apresentaram elevação nas cotações – impulsionadas pela valorização externa. Retrações no preço do diesel em grande parte das regiões acompanhadas resultaram em queda nos custos com as operações mecânicas de reforma e manutenção realizadas na propriedade no mês.

Relação de troca

Em setembro, o produtor de leite precisou de 26,6 litros de leite para a aquisição de uma saca de 60 kg de milho, 12,3% a mais do que em agosto. A desvalorização do leite no período e a alta no preço do milho influenciaram essa piora na relação de troca do pecuarista leiteiro. A relação de troca se aproximou da média dos últimos 12 meses, de 27,9 litros/saca.”

AGROemDIA

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