Olimpíadas politicamente vegana
Gil Reis*
“Uma vergonha!” Exclamou um amigo quando foi divulgado que o Comitê das Olimpíadas havia banido a carne da alimentação dos atletas e dos aficionados por esportes que participarão do evento. Sou obrigado a concordar que um evento esportivo de milênios jamais deva ser explorado como plataforma contra as carnes e promoção do ambientalismo. Os atletas de todo o planeta reunidos para participar do evento servirão de instrumento de vendas da empresa vegana Garden Gourmet.
Charlotte Pointing expõe em artigo publicado no site VegNews, em 24/05/2024, sob o título “Não foie gras aqui: por que as Olimpíadas de Paris 2024 estão dando ouro às plantas”, toda a ‘vergonheira’ de autoria do Comitê Olímpico, que comanda as Olimpíadas de 2024, na França. Transcrevo:
“Fãs e atletas serão presenteados com uma ampla variedade de deliciosas comidas veganas e vegetarianas nos Jogos Olímpicos de 2024, enquanto Paris tenta sediar a iteração mais sustentável do evento esportivo até agora. A cada quatro anos, as Olimpíadas prometem ser ‘o maior espetáculo da Terra’ e, graças ao impressionante calibre dos atletas que competem todos os anos, sempre cumprem. Mas embora possa ser o maior espetáculo, nem sempre é o mais verde. Na verdade, os eventos Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020 (que, por razões óbvias, ocorreram em 2021) emitiram em média cerca de 3,9 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
Mas em julho deste ano, os jogos vão para Paris e o evento parece ser uma das Olimpíadas mais sustentáveis de sempre. A capital francesa fará até um esforço especial para oferecer bastante comida vegana amiga do carbono – nada mal para uma cidade que é mundialmente conhecida pelo seu amor pela carne e pelo queijo.
As Olimpíadas de Paris serão sustentáveis?
De acordo com o comité Olímpico Paris 2024, os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos deste ano estabelecerão um ‘novo padrão’ em termos de sustentabilidade. Na verdade, até se comprometeu a reduzir as emissões para metade em comparação com os jogos anteriores. Uma das formas mais importantes que estabeleceu para atingir este objectivo é não exagerar na construção de novos estádios para acolher eventos. Em vez disso, está a adaptar os estádios existentes da cidade, incluindo o Stade de France (construído em 1998 para acolher o Campeonato do Mundo de futebol). O comité está a construir apenas uma nova arena, em Saint-Denis, que será inteiramente alimentada por energia solar.
Numa tentativa de sequestrar carbono, foram plantadas 200.000 novas árvores em redor da cidade para o evento, e muitos telhados em redor da Vila dos Atletas foram propositadamente adaptados a insetos e pássaros. Haverá também novas ciclovias, mais bicicletas pré-pagas e muito transporte público extra para os milhões de fãs que irão à cidade. Além de tudo isso, Paris 2024 está prestando muita atenção ao tipo de alimentação que oferecerá aos torcedores e atletas durante todo o evento. Isto é particularmente importante, considerando que a forma como comemos tem um impacto monumental no planeta. Só a pecuária é responsável por 14,5% das emissões globais de gases com efeito de estufa. Para efeito de comparação, a aviação é responsável por 2% das emissões.
O que será diferente na comida servida nas Olimpíadas de Paris em 2024?
O comité Olímpico de Paris 2024 está a enfatizar ‘mais alimentos locais e mais vegetais’ para os jogos deste ano. A previsão é que servirá cerca de 13 milhões de refeições durante todo o evento para torcedores e atletas, e muitas delas serão livres de animais, ou pelo menos vegetarianas. Na verdade, estima-se que 60% das refeições vendidas aos torcedores nos estádios serão isentas de carne. ‘Os espectadores poderão saborear diferentes sanduíches em locais de Paris, Marselha e Lyon, elaborados por chefs com produtos das regiões francesas’, observa o site Paris 2024. ‘O denominador comum entre todos: comida saudável, gourmet e criativa, com mais opções vegetais e locais a preços acessíveis!’
Algumas das outras opções que fãs e atletas podem esperar, de acordo com o The Guardian, incluem muitas frutas e lentilhas e quinoa de origem local, mas também carne vegetal. Na verdade, a marca de carne vegetal Garden Gourmet é na verdade patrocinadora das Olimpíadas deste ano. ‘Estamos em França, por isso a comida é importante. Mas trata-se de apresentar outra forma de comer deliciosamente, mesmo que de forma acelerada, como hambúrgueres vegetarianos e cachorros-quentes em um estádio.’ —Georgina Grenon, diretora de excelência ambiental de Paris 2024
Apesar da sua reputação, Paris em geral está a tornar-se mais amiga dos veganos. De acordo com a Happy Cow, existem cerca de 585 restaurantes veganos e vegetarianos na cidade. E em toda a França, o flexitarismo está a ganhar popularidade. Em 2022, um estudo descobriu que pouco menos de metade dos agregados familiares franceses têm pelo menos uma pessoa que está a tentar reduzir o consumo de carne. Charles Guilloy, chef executivo da Sodexo! Live e administrará o restaurante da Vila Olímpica para atletas, acredita que o estereótipo de que a culinária francesa é ‘carne, carne e só carne’ é falso. Ele disse ao Guardian que servirá deliciosos pratos de vegetais locais sazonais para os competidores este ano.
‘O bife bourguignon é uma receita muito francesa, mas eu a reformulei para os atletas olímpicos como um bourguignon vegetariano com vegetais da estação, batatas, cenouras, ervilhas, alho-poró jovem e chalota’, explicou ele. ‘Gosto de comer um prato vegetariano com garfo e faca e que seja tão prazeroso quanto os produtos de origem animal. ‘A área ao redor de Paris produz ótimos vegetais, desde todos os tipos de repolho até agrião e lentilhas”, acrescentou. Eu criei um dal de lentilha com lentilhas verdes locais e coentro cultivado localmente porque as lentilhas têm sido um alimento básico ao longo dos tempos.”
Até que ponto os atletas devem se sacrificar para participar de uma Olimpíada? Até quando o Brasil vai aceitar todas as agressões cometidas contra os alimentos que exporta? Afinal, somos os maiores exportadores de carne e temos o maior rebanho bovino comercial do planeta. Será que as autoridades brasileiras não se manifestarão contra os absurdos do atual Comitê Olímpico? Será que as representações esportivas brasileiras ficarão caladas diante deste escândalo e desta vergonha internacional? Creio que, se tal situação perdurar, a única atitude seria o Brasil se retirar das Olimpíadas de 2024 para não se tornar cumplice deste absurdo. Quem tem vergonha não faz vergonha.
“Os imbecis deveriam contestar a própria falta de discernimento, caráter, vergonha na cara e voltar ao trabalho” – Gervásio Xavier Soares, pensador.
*Consultor em Agronegócio
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do AGROemDIA

