Projeto Peixe Vivo vai recuperar mananciais de Brasília

O Distrito Federal lançou neste sábado (2) o projeto Como Pode um Peixe Vivo. A iniciativa visa recuperar rios, riachos, ribeirões e córregos das bacias hidrográficas. A cerimônia ocorreu no Parque Ecológico e Vivencial do Riacho Fundo I, área de preservação ambiental que abriga o maior conjunto de nascentes do Ribeirão Riacho Fundo, segundo o Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
De acordo com o governador Rodrigo Rollemberg, o projeto será um modelo para outras comunidades. “Tenho certeza que o resto do mundo vai ver no Fórum Mundial da Água um exemplo de como a mobilização social e a conscientização podem transformar nossa cidade em um lugar melhor.”
O processo envolve etapas de mobilização social, educação ambiental e melhorias físicas na malha de cursos d’água do DF, diz a presidente do Ibram, Jane Vilas Bôas. “O projeto melhorará as condições da água, das margens do rio [Ribeirão Riacho Fundo] e mobilizará a população para ter consciência de ser dona de uma riqueza, porque água é riqueza”, destaca Jane.
O projeto prevê ainda de pesquisa, fiscalização e replantio de mudas nas margens dos afluentes do Lago Paranoá. A ideia é recuperar áreas degradadas, acabar com pontos de esgoto clandestino e com casos de poluição das águas.
Ameaça de extinção
O símbolo do projeto é o peixe pirá-brasília, espécie que vive exclusivamente no ecossistema do DF e que sofre ameaça de extinção devido à degradação dos rios.
Já o nome refere-se a um clássico homônimo do cancioneiro brasileiro que virou referência a Juscelino Kubitschek após seu retorno do exílio na década de 1970.
O lançamento do Como Pode um Peixe Vivo faz parte da programação da Virada do Cerrado. Com o tema Cuidando das Águas, a terceira edição começou nessa sexta-feira (1º) e termina neste domingo (3).
Fanpage e documentários
Neste sábado também foi lançada a fanpage no Facebook. Por meio da rede social, os interessados poderão acompanhar o andamento do projeto.
Como parte da inauguração, também teve início a produção de uma série de documentários sobre as bacias hidrográficas do DF feitos por organizações sociais.
O material comporá um longa-metragem a ser exibido no 8° Fórum Mundial da Água, o maior evento global sobre o tema, que ocorrerá em Brasília de 18 a 23 de março de 2018.
A previsão é que mais de 30 mil representantes de pelo menos 100 países estejam na capital federal para discutir questões sobre a crise hídrica que afeta o Brasil e diversas partes do mundo.
SAIBA MAIS
Peixe que só existe em Brasília

É dentro de pequenas poças d’água, em regiões pantanosas do DF, que vive um dos mais curiosos habitantes de Brasília. Descoberto ainda durante a construção da capital, o pirá-brasília, peixe de cor vibrante e que não existe em ambientes naturais de nenhum outro lugar do Brasil ou do mundo, tem um ciclo de vida intrigante, que segue o regime de chuvas do Cerrado.
Antes de cada estiagem, os pirás-brasília deixam ovos enterrados em meio ao lodo das poças d’água. Quando estas secam, a população adulta, inevitavelmente, acaba morrendo. Mas basta que o habitat se refaça, com a volta das chuvas, para que os ovos se rompam e uma nova geração povoe os brejos.
O sumiço e o reaparecimento dos pequenos peixes — que chegam em média a 5 centímetros de comprimento, na vida adulta — fazem com que eles também sejam conhecidos como peixes das nuvens, por “caírem do céu” com as chuvas.
“Esse peixe é genuinamente brasiliense”, conta orgulhoso José Buitoni. A semelhança entre o sobrenome do zoonaturalista de 85 anos e o nome científico do pirá-brasília (Simpsonichthys boitonei) não é coincidência. Ex-funcionário do Museu Nacional e do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, ele chegou à região onde seria construída a capital federal, em 1956, para fazer o levantamento das espécies animais.
Foi durante uma expedição ao córrego Riacho Fundo, nas proximidades do Jardim Zoológico — instituição que Buitoni também tinha como missão organizar e estruturar — que ele se deparou com o pirá-brasília.
“Era muito bonito, mas o coletei pelo hábito de coletar; não fui atrás dele. Mandei o material para o Rio de Janeiro, e me disseram que se tratava de um gênero novo”, recorda. “O pessoal me pediu permissão para colocar o nome do gênero de Simpson, em homenagem a um pesquisador norte-americano, e para botar o meu nome na espécie”, completa Buitoni, que devido a um erro de cartório carregava à época o sobrenome Boitone — distorção corrigida já neste século.
Da redação, com informações da Ag. Brasília