Desgaste de Musk

Gil Reis*

Não vai aqui nenhuma defesa de Elon Musk, mas sim a análise do comportamento dos seres humanos de hoje. Como disse o meu amigo Décio Michellis Jr, comentando um de meus artigos: ‘Caro Gil: estamos na época da pós verdade. As pessoas são mais propensas a aceitar um argumento baseado em suas emoções e crenças, em vez de um baseado em fatos. A ideia de verdade caiu em desuso nos últimos anos. C’est la vie…’ Diante de posicionamentos que testemunhamos no dia a dia, somente me resta acreditar no que disse o mestre Décio: vivemos em plena época da pós verdade.

Hyunjoo Jin e Nick Carey esclarecem um pouco mais as consequências da destruição da reputação na reportagem “Os possíveis compradores da Tesla desprezam a empresa enquanto a reputação de Musk cai”, publicada pela Agência Reuters em 1º de abril de 2024. Reproduzo:

“O número de possíveis compradores da Tesla nos Estados Unidos está diminuindo, de acordo com uma pesquisa da empresa de inteligência de mercado Caliber, que atribuiu a queda, em parte, à personalidade polarizadora do CEO Elon Musk.

Embora a Tesla tenha continuado a registar um forte crescimento nas vendas no ano passado, ajudada por cortes agressivos de preços, espera-se que o fabricante de veículos elétricos registre vendas trimestrais fracas. ‘Pontuação de consideração’ do Calibre para Tesla, abre uma nova aba, fornecido exclusivamente à Reuters, caiu para 31% em fevereiro, menos da metade do máximo de 70% em novembro de 2021, quando começou a monitorar o interesse do consumidor pela marca.

A pontuação de consideração da Tesla caiu 8 pontos percentuais somente em relação a janeiro, mesmo com as pontuações do Calibre para a Mercedes (MBGn.DE), abre uma nova aba, BMW (BMWG.DE), abre uma nova abae a Audi, que produz modelos a gás e também EV, aumentou gradualmente durante o mesmo período, atingindo 44-47%. Tesla não respondeu a um pedido de comentário. No passado, Musk culpou as altas taxas de juros por reduzir a demanda do consumidor por itens caros, como carros.

 ‘É muito provável que o próprio Musk esteja contribuindo para a queda da reputação’, disse o CEO da Caliber, Shahar Silbershatz, à Reuters, dizendo que a pesquisa de sua empresa mostra que 83% dos americanos conectam Musk com Tesla. A Reuters conversou com cinco especialistas em marketing, pesquisas e automóveis que disseram que as controvérsias em torno da política cada vez mais direitista e das declarações públicas de Musk estão pesando sobre a marca e a demanda da Tesla.

Os receios económicos, a falta de novos modelos acessíveis e a crescente concorrência de rivais mais baratos como a chinesa BYD também foram citados por analistas de Wall Street como fatores de pressão sobre a Tesla. As vendas gerais de veículos elétricos nos EUA deverão aumentar 15% no primeiro trimestre deste ano, de acordo com estimativas da pesquisadora Cox Automotive. As vendas da Tesla devem aumentar 3%. Os registos de novos automóveis para Teslas na Califórnia – o seu maior mercado nos EUA – registaram a sua primeira queda em mais de três anos no quarto trimestre de 2023, mesmo com o aumento geral das vendas de VE.

Pelo menos cinco analistas reduziram o preço-alvo da Tesla no mês passado, dizendo que a montadora poderia apresentar resultados decepcionantes de entrega no primeiro trimestre. As ações da Tesla caíram quase 30% no acumulado do ano. A personalidade descomunal de Musk beneficiou Tesla ao promover o combate às alterações climáticas, reimaginando os carros como elegantes computadores eléctricos sobre rodas que poderiam superar os bebedores de gasolina em termos de aparência, desempenho e comportamento.

A Tesla alcançou um crescimento vertiginoso nas vendas anuais por mais de uma década. Nos últimos anos, o bilionário gerou polêmica com comentários e ações, incluindo sua adesão ao Partido Republicano e o endosso de comentários antissemitas sobre X. Musk negou ser antissemita. Quando questionado por um investidor durante uma teleconferência em janeiro de 2023 se seus comentários políticos estavam prejudicando a marca e as vendas da Tesla, Musk disse que ele era ‘razoavelmente popular’, referindo-se aos seus então 127 milhões de seguidores no X, anteriormente conhecido como Twitter.

“Quer você me odeie, goste de mim ou seja indiferente, você quer o melhor carro ou não quer o melhor carro?” Musk disse em outro evento em novembro. A consultoria de avaliação de marca Brand Finance descobriu que a reputação da Tesla caiu em 2023, abre uma nova aba nos Estados Unidos, Holanda, França, Reino Unido e Austrália. A reputação da Tesla não foi prejudicada na China, onde o acesso a notícias sobre a empresa e o seu CEO pode ter sido limitado, e na Alemanha.

Nos EUA, uma pesquisa realizada pela empresa de análise de consumo CivicScience, abre uma nova aba mostrado exclusivamente à Reuters descobriu que 42% dos entrevistados tinham uma visão desfavorável de Musk em fevereiro, acima dos 34% em abril de 2022, quando Musk revelou sua participação no Twitter. ‘Um número modesto, mas crescente, de compradores de veículos elétricos está cada vez mais desanimado com o comportamento e a política de Elon Musk e agora está encontrando alternativas viáveis ​​ao Tesla no mercado’, disse Ed Kim, presidente da consultoria AutoPacific, com sede na Califórnia.

Esse grupo inclui Jonny Page, um consultor baseado em Londres que trabalha com startups focadas no clima e que irá comprar um VE neste verão. Não será um Tesla. Page, 36, disse que sua decisão se deve em parte às preocupações com a segurança da Tesla, mas principalmente ao comportamento ‘desequilibrado’ de Musk. ‘Não quero colocar um único centavo nos bolsos daquele homem’, disse Page”.

Caso alguém esteja imaginando que a destruição de reputações seja algo localizado apenas no setor de veículos elétricos, está redondamente enganado. A reputação da nossa agropecuária e de nosso agronegócio vem sendo solapada, sofrendo tentativa de destruição pelas grandes mídias internacionais e nacionais, além de ações de alguns países na tentativa de destruir a cadeia alimentar brasileira.

“Uma escuridão terrível abateu-se sobre nós, mas não podemos nos render” – Membro anônimo da Resistência francesa, 1943.

*Consultor em Agronegócio

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do AGROemDIA