Sempre aos Domingos: Querência, tempo e ausência – Luiz Marenco e Jari Terres
Da redação//AGROemDIA
Neste 9 de agosto, Dia dos Pais regido pelos desígnios mórbidos do onipresente coronavírus, ceifador do convívio social e de vidas, Luiz Marenco e Jari Terres cantam “Querência, tempo e ausência” para os leitores do AGROemDIA. Um grande da redação do portal a todos os pais, sejam do campo ou da cidade.
A sugestão é da leitora Carla Machado Rodrigues, jornalista brasiliense. Junto, ela postou a mensagem que enviou ao seu pai neste domingo 9. Ei-la:
“O DIA DO MEU PAI
Comecei a vida com Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach
Passei pelos Ratos, de Dyonelio Machado
Tentei compreender, em vão, contos do Machado de Assis
Nunca nutri grande admiração por Lobato, visto que Ele me dizia que o escritor era racista
Mas gostava das reinações de Narizinho
Me foi indicado Eduardo Bueno
Porém,
Era cedo demais para me arriscar na História do Brasil
Fui jogada nas garras do existencialismo aos 16
Li Sartre e acho que até falamos sobre isso uma vez em um bar
Ao mesmo tempo, descobri Neruda,
Os pequenos aforismos de Quintana,
As minhas faces de Fernando Pessoa
E me apaixonei pelas métricas de Paulo Leminski
Foi quando descobri que “amar é um elo entre o azul e o amarelo”
Que frase boba!
Que frase linda
Carlos Drummond me falou dos Dias Lindos
Manuel Bandeira, sem o menor pudor, me disse que o bicho catando comida entre detritos não era um bicho
Espantada, descobri que o bicho, meu Deus, “era um homem”
Então, veio Dostoiévski
Que tirou de mim a inocente crença do socialismo
Mas também me fez enxergar as chagas do capitalismo
Li o Manifesto Comunista,
Li Páginas da Utopia
Conheci, por meio dele, o indianista, o romancista, o utópico Darcy Ribeiro
Cheguei, então, a Paulo Freire
Que me falava coisas sobre “educação libertadora”
Que contava sobre Medo e Ousadia
Fui apresentada a Simone de Beauvoir,
Ligya Fagundes Telles,
Raquel de Queiroz,
Clarice Lispector…
E, com todas elas, entendi o que significa dizer:
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”
Até B. Traven, autor sobre o qual nunca tinha escutado falar, chegou até mim pelas mãos Dele
E foi lendo O Visitante Noturno de que me dei conta da real grandeza do meu pai
Um pai que me educou para amar, sobretudo, o que forma as pessoas,
O caráter e a retidão delas.
As palavras.
Meu pai me ensinou a amar as palavras: as ditas e as caladas
Do jeito dele, sem gostar muito de viajar, ele me levou a mundos diversos
A pessoas diversas
O meu pai é conto, crônica e poesia
Tudo junto: porque dele, também, veio meu amor pela música
E pelos versos de quem diz:
“O tempo que nos separa é o que mais nos aproxima
Quem vira mundo não para. Nem, tampouco, desanima”.