Surpresa do presidente do BC com inflação é sinal de mais aperto para o povo
Ivanir José Bortot*
A manifestação de surpresa do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre o aumento da inflação em março foi recebida pelo mercado com aumento das previsões dos juros para 2022. Além da surpresa, Campos Neto passou dúvida sobre o impacto do IPCA, de 1,62%, uma vez que este índice veio acima do esperado pela autoridade monetária.
O Banco Central quer agora avaliar se o IPCA de março influencia de alguma maneira a “tendência” da inflação. Para Campos Neto, a trajetória de preços já “está muito alta”.
De fato, é surpreendente ver o presidente do Banco Central dizer, em público, que está surpreso com a inflação do mês passado e que terá que avaliar seus impactos sobre o comportamento dos preços no futuro.
A impressão que fica é que os instrumentos de previsão de preços e inflação do Banco Central falharam. O mais grave é que uma das mais importantes missões do BC seria controlar a inflação ou prever como os aumentos de preços terão impactos inflacionários. Não conseguiu fazer nem uma coisa e nem outra.
A realidade é que a inflação atual, na sua fusão elevada, está disseminada na economia e não é mais causada apenas pelos reajustes dos combustíveis, embora estes sejam de maior impacto individual e provoquem aumento de outros preços e serviços.
Campos Neto levanta ainda dúvidas sobre os efeitos do câmbio sobre os preços da economia. Dá a entender que o FED, o Banco Central dos Estados Unidos, deverá elevar ainda mais suas taxas de juros para controlar a inflação. Isto ocorrendo poderia reduzir o fluxo de ingresso do dólar ao Brasil, o que vem contribuindo para valorização do real.
Um real mais valorizado poderia contribuir para segurar os aumentos de preços, mas nem isso a autoridade monetária está observando neste momento. O cenário para os próximos meses é de aumento de preços e juros ainda mais elevados, indicando que teremos baixo crescimento econômico em 2022 ou mesmo recessão com desemprego mais elevado e queda ainda maior no poder de compra da população.
*Jornalista formado pela UFRGS, com pós-graduação em jornalismo econômico pela Faculdade de Economia e Administração (FAE/PR), ex-editor-chefe Agência Brasil, ex-repórter e editor sênior da Gazeta Mercantil e ex-repórter da Folha de S.Paulo
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do AGROemDIA